ESPAÇO DE CULTURA

ESPAÇO DE CULTURA

quarta-feira, 1 de abril de 2020


POETA E ESCRITORA
ÂNGELA CRISTINA CURI FERREIRA DE SIQUEIRA 
 

REFLEXÕES SOBRE O AMANHÃ

 Que venham as rugas... marco do tempo... decorrente!
Que venham as cãs... marco do tempo... concedente!
Que venham... sorrateiramente... convincentemente! 
Não quero carne velha, nem jeito azedo... nem robe,
de chita, estampado, rasgado,surrado ou reformado...
Cubram-me com seda... diáfana... salpicada de luz... sossegada!
Penteiem meus parcos fios com dentes não violados...
e que, minha pele, papel de seda amassado...
seja ungida com óleo perfumado...
tratada, resistirá às feridas fungicidas...
E, minhas mãos de ceratose, numa metamorfose... às sabidas...
reflexo dos sóis da juventude, acarinhadas...
Nada de piedade ou pieguice... deixem-me cuidar da minha horta,
não como folha ou natureza morta.
Preciso interagir com os cheiros e os sabores...
 portar flores furta-cores.
Quando cantar o canto solitário, no dia do meu aniversário,
lembrem-se que já não me prendo à calendário!
 Tornou-se desnecessário... igualitário... imaginário...
o que me importa, neste momento, é o caminhar lento...
sem tormento!
É abrir a janela, sentir o sol, a brisa na face...
desprendimento!
Perceber fragmento, de luz, que reluz nos meus olhos
pequenos... apertados... quase cerrados...
E, quem sabe, por impulso ou por vontade,
sem repulso, saia, do meu hálito de alcaçuz,
acordes em dó-maior... como obra de Miró...
Nada de escárnio, de sórdido ou à toa...
quem sabe... talvez...
um poema de Pessoa.

(Ângela Cristina Curi Ferreira de Siqueira)

Nenhum comentário:

Postar um comentário